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Rito de Purificação

Tudo o que escrevo é pó.

Tudo que espirro, sopro, levanto

É pó que solto por entre os prédios na manhã ciumenta

O que procuro, entre argumentos de homem

É pó vazio que se desfaz em segundos perdidos

E tudo meu que não é pó é poeira


Bate leve sobre meu rosto imundo

Partículas de um sentimento mobiliado

Pelas impurezas carnais, e fugaz

Não mais a alma me devora

Como todas as manhãs de calafrios

Como todos os arrepios de corpo tranquilo


Tudo o que escrevo é pó

Tudo que vivo, apreendo, enrosco

Mera ferocidade que me excita

Consumo que me repele

Teias inacabadas de hipocrisia

Congelam meu sangue dormente.