HUMILDADE: quem diz que tem já perdeu.

Havia um rei árabe, Hatim Tai, que era surdo. Ou assim pensavam as pessoas sobre ele. Mas, certa manhã, bem cedo, quando a câmara do conselho estava quase deserta, um suave zumbido, quase um sussurro, começou em um canto do quarto. Hatim Tai levantou-se e encaminhou-se até lá.
Lá, ele encontrou um mosca se debatendo em uma teia de aranha. Os fios da teia reluziam como algodão-doce ao sol da manhã. Teria a mosca confundido-os com um doce? Será que ela pensou que a aranha, agachada, imóvel, em um ponto elevado da teia, fosse um pedaço de açúcar mascavo?
Hatim falou à mosca:
- Ó você, algemada pelo desejo, mantenha-se quieta! Agora você sabe que não encontra coisas doces em todos os lugares que procura. Em alguns cantos, armadilhas e cativeiros esperam você!
No momento seguinte, a aranha arremessou-se à frente e o zumbido cessou. Hatim Tai afastou-se com um triste sorriso.
Havia apenas poucas pessoas na sala àquela manhã. Uma delas, um simples soldado, falou, maravilhado:
- Senhor, como soube a respeito d mosca? Eu mal pude ouvi-la daqui. Ó homem dos caminhos de Deus, perdoe-me. Mas ninguém devia chamá-lo de surdo. Você ouve melhor do que eu.
- Você é um sujeito esperto - disse Hatim Tai - Acredite-me, é muito melhor passar por surdo do que ter que escutar elogios vazios. Devo contar-lhe como a minha surdez começou? Começou no dia em que percebi que estava cercado por pessoas que encobriam todas as minhas faltas com elogios. Eu havia sido apanhado em uma teia de bajulações e elogios; para ser honesto, tanto meu caráter quanto o meu julgamento estavam se deteriorando. Assim, decidi deixar as pessoas pensarem que eu não podia mais ouvi-las e, pouco a pouco, elas pararam de tentar me influenciar daquela maneira.
- Quando aqueles que sentam comigo nesses aposentos pensam que eu não posso ouvir,eles não têm medo de dizer o que há de errado comigo. E se não estou sempre satisfeito com o que eles dizem, tento então mudar o comportamento que provocou suas palavras. A surdez, como um todo, tem me servido muito bem. Ela me tem salvo, durante todos esses anos, dos vícios que surgem com a vaidade. Você pode tentar isso algum dia, jovem. Não se permita ser puxado até a borda de um poço sem fundo pelas cordas dos elogios. Seja surdo como Hatim e preste atenção às suas faltas.

contado por Sa'di, místico e poeta Sufi.

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