eu me sentei numa pedra como um cavaleiro na tempestade, que implora pelo sol. Roupas molhadas, sapatos molhados, idéias encharcadas; era assim que eu me encontrava. Com meu cavalo imaginário, eu passava frio e fome. Ele não reclamava porque o seu alimento era a minha tristeza. Estava de pança cheia o bicho! Tudo parecia muito distante de mim. Avistei uma pequena árvore com frutos que pareciam apetitosos; mas fiquei com medo de morrer antes de chegar lá, então eu desisti e continuei sentado na minha pedra. Agora a chuva já havia se extinguido, mas eu continuava implorando pelo sol. Minha roupa fedia a mofo, meus sapatos fediam a mofo e as minhas idéias fediam a mofo. De repente eu caí no sono, ao lado de meu cavalo e quando acordei, havia aparecido outra pequena árvore um pouco mais perto. Eu até pensei em tentar a sorte, mas meu cavalo relinchou, como quem desaprova. Bom pra ele, que a cada momento ficava mais gordo!
Eu permaneci sentado em minha pedra, até que recomeçou a chover miseravelmente, e eu não fui corajoso o bastante pra me levantar daquela pedra; e eu definhava pouco a pouco. Eu comecei a olhar para o céu, como se pudesse ali encontrar uma resposta, e berrei sem que eu mesmo pudesse ouvir minha voz. Apareceu mais uma árvore de fruta, mais perto ainda. Dessa vez, não tive dúvida e me pus a correr em direção a ela e meu cavalo veio logo atrás a galope, chegando lá antes de mim e devorando todos os frutos da árvore. Tudo parecia perdido pra mim, e voltei à minha pedra. Maldito eqüino! Nem sei quantos dias nós passamos ali, só lembro o momento exato em que caiu outra chuva; mas essa começou dentro de mim, e se converteu fisicamente em lágrimas, que finalmente me mostrou o sol que se abria sobre minha cabeça, e fazia brotar como mágica, milhares de pés de fruta em volta de mim e da minha pedra. Por mais que aquele cavalo negro tentasse devorar todos os frutos, ele nunca conseguiria. Então descansadamente mordisquei um daqueles frutos saborosos e assisti ao seu desespero ao se ver reduzido a pó. Peguei minha pedra, montei meu cavalo branco e saí galopando por aí, em busca de outra tempestade.

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