I
Cada passo de terra, que cai sobre a terra
não morre no chão.
Cada pingo de água que corre na estrada
não molha Antão.
A sua cabeça é seca cabeça,
é nada na mão
Antão, me desculpe: promete e não cumpre
vai pro paredão.
Adeus, meu amigo, pai e marido
se eu for te matar.
Eu só cumpro ordens, e causo a desordem
deste lugar.
(E some o ritmo)
Mandarei notícias à sua esposa,
torturarei seus parentes
Tomarei vários copos de whisky
e você sumirá.
II
Entre prédios e elevadores
há um cerco, há uma escada
Há lembranças de um homem
que a largou sem dizer nada.
A moça sente dor
na boca borrada
Finge falar com uma flor,
porém fria e calada.
Não ousa voltar pra casa,
todos acham que foi viajar.
Não ousa ter reação
ainda espera o homem chegar.
Adormece. E sonha com a vida
Abre os olhos, mas não há uma saída
Leva as mãos à face e desaba a chorar.
III
Ela ria, a Horácia, ela ria.
Uma alegria confusa:
Não há graça, não há inteligência
orgia não usa.
Ela deitava, a Horácia, e durmia.
Em cima da cama coberta de jóias,
Sobre o fogão, gostoso fogão,
E sobre a pia.
Lembrava, a Horáci, lembrava que um dia
Deu uma risada,
uma imensa risada
que quase caía.
Ela tinha, a Horácia, ela tinha
de tudo um pouco,
só não mais um pouco,
de nada ela tinha.
IV
Aqueles olhos negros sentiam fome
nem a mãe morta, nem o velho ao lado,
nem o pé de laranja plantado
Poderiam sossegar aqueles olhos.
No meio desértico escaldado
arrastava-se pelos braços,
arrancava-lhe a cara sortida
Sorria pro sol ardente das víceras.
Tão solitária e pálida, essa alma
Que luta por uma vida morta
Que surge da poeira, da porta
E se funde sem sonhar pro dia.
V
A rua não o deixava em paz
Na face, um Beneditino frustrado
No peito a risada sagaz
Já não trabalhava, fazia poesia.
As palavras exatas dele fugiam
A sua régua alfabética se partira no meio,
Já não tinha mais anseio
Onde despejara o vazio.
Antes, sua boca gesticulava poesia
Mas quem dera boca tivesse
Que embora sua mente viesse
Seu paladar estava seco de pensar.
Perdera-se no templo grego,
no próprio estômago astral
Na parede da subjetividade
esbarrara-se de frente ao apego.
VI
O infeliz do Aderaldo,
pulou da cadeira pra cima
Jogou-se para o lado
E sobressaiu, um tanto calado.
Pobre da Joana,
desceu à vida, não viu o chão
caiu de cara, contra-mão
no solo fedido e arado.
O infeliz do Adolfo,
não tem argumentos,
não tem lenço, nem documento
E procura um mundo adequado.
Já vai seu José?
vai a carro, a trem ou à pé?
Porque sabes como é,
esse bairro desordenado!
acho que você já falou tudo aí.
ResponderExcluirnão preciso falar mais nada :]
e eu vou roubar seus poemas e levar numa editora.
agora digo logo, se forem publicados, quero parte do dinheiro. hehen :x
nossa ravi, ótimo poema...
ResponderExcluira mistura de diversas pessoas, com suas próprias vidas e preocupações,anseios, desejos...
parabéns!
realmente, dá pra escrever um livro.
Bjos.
meu irmão
ResponderExcluirsem palavras aqui
só não choro porque lágrimas eu não tenho x)~
você tem que lançar um livro.
o que são os meus versos perto dos teus?