Reflexões de um momento onde a vida não vale mais a pena - O velório

Morto, porém jovem.
Era o que todos diziam sobre seu caixão. Ali estava ele, frio, banhado em lágrimas de amigos e parentes. Braços cruzados sobre o peito e vestido com seu hobby preferido (não era o seu hobby preferido realmente, mas uma forma de ridicularizá-lo).
Dos filhos, todos foram, mas nem todos ficaram. Sua esposa estava lá, recebendo todos; uma espécie de anfitriã. Sua carta de despedida estava lá, pregada, como forma de homenagem (foi ridcularizado outra vez).
A capela estava lotada de pessoas de óculos escuros. Alguns não ousavam se aproximar. Outros, faziam questão de ver o furo em sua cabeça, que por sinal estava descoberto (talvez a coroa de flores tenha ficado fora do lugar sem querer).
Não tinha padre, mas um amigo seu, pastor, proferiu algumas palavras em seu respeito, causando a inquietação geral.
Já estava tudo pronto para o buffet. Comidas finas para pessoas finas que lamentam a morte de uma pessoa querida. A mulher já estava farta (e o morto também) de tantas condolências.

...

Educadamente tirados da capela, os convidados se direcionaram às mesas e comeram. Com um estranho silêncio de cochichos, mas comeram. Comeram e foram embora.
Ele preparava-se para ir ao crematório.

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