Comecei a me sentir meio impotente hoje.
Não sei como me ocorreu essa idéia, mas eu tenho a ligeira mania de deixar o tempo passar enquanto eu penso. E eu percebo isso.
Algo dentro de mim lamenta mais um dia subtraindo-se da vida, mas outro algo me manda esquecer e tentar fazer diferente no dia seguinte, embora não me encoraje a isso.
Foi como se eu tivesse tido um estalo; há dias não presto atenção nas roupas que visto e meu cabelo está sujo. Por que? Não sei. Acho que dá preguiça de lavar quando tomo banho.
Vivo assim há dias. Seguindo apenas o instinto humano acomodado de se alimentar e descansar pra repor as energias, já que nada me é cobrado.
Patético.
Eu tenho muita vontade. Aliás, vontades não me faltam. Vontade de correr, vontade de ir à praia, vontade de ler livros, vontade de ligar pra pessoas. Mas um grande erro eu cometo: fico só na vontade.
Nada do que venho fazendo está me ajudando a recuperar a memória, ou melhorá-la. Sou dotada de uma falha grave nessa parte que tanto importa na vida. Tanto faz esquecer coisas banais ou coisas importantes. Esquecer que já corri só de biquini no meio de uma avenida, ou esquecer de um brilhante fora que dei em alguém. Até esquecer crachás. Não interessa. Eu esqueço.
Já me disseram que isso é grave e que eu deveria procurar ajuda. Eu até que procurei sabe? Mas acho que procurei errado. Talvez um dia eu acorde e não me lembre mais que eu gosto de escrever. Tomara que não.
Talvez por esquecer tanto, eu perco muito tempo tentando me lembrar. Essa semana, estive lembrando de quando parei de escrever poesias. Sinceramente, não gosto de muitas que escrevi e não sei recitar nenhuma sem filar do papel. Triste. Eu queria colocar uma pra encerrar esse texto, mas ainda não decidi, então continuarei escrevendo até achar uma que me agrade aqui no arquivo.
Mentira, é porque realmente nada me agrada. Então eu vou colocar uma que põe um fim na vida muito simplesmente. Curta até. Até porque eu não sei como a vida termina, mas tenho um palpite.



EUCLIDES, O VIAJANTE
Viajava em seu fusca azulado
da cor do céu.
Embriagado, levava as mãos a cabeça
e a cabeça ao infinito.
Não tinha medo de viver
nem de morrer
ele queria viver
mas apenas existia
e já estava no ápice da sua vida.
Milhas e milhas corridas
e um poste na frente.

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